Ex-diretor do centro português denuncia fraude na instituição

Há alguns meses, a comunidade assiste perplexa vídeos e postagens em redes sociais com denuncias contra o Centro Comunitário Português de Apoio à Comunidade Lusófona (PSCC, sigla do inglês), que fica em Kennington. O autor é o ex-diretor da instituição, o jornalista e escritor Alcino Francisco. Segundo ele, há inúmeras irregularidades na atual e na passada administrações do centro, como receptação de produtos de origem não documentada e desvio de verbas na ordem de 30 mil libras.

A reportagem de Notícias em Português ouviu os personagens citados nas acusações, que disseram tratar-se de uma “questão pessoal levada à público”. E que até o final deste ano, as contas do centro estarão regularizadas.

Alcino foi diretor do PSCC por um ano e depois continuou como voluntário até o começo de 2020. Ele conta que a luz amarela acendeu quando uma verba de 10 mil libras, que deveria ser utilizada na criação de um curso de rádio para a comunidade ministrado por ele, nunca chegou a seu destino. “Perguntei a diferentes diretores o que havia sido feito do dinheiro e ouvi diferentes respostas. Um disse que precisou ser usado para pagar salários da gerente do centro, na época única profissional paga na instituição. Outro disse que foi para pagar alugueis atrasados”, diz Alcino. “É obrigatória uma reunião anual para prestação de contas e há quatro anos isso não acontece.”

Na época em que a fraude foi descoberta, Antonio Cunha fazia parte da direcção. “Ele também era diretor. Se houve irregularidade, foi quando ele fazia parte da diretoria”, rebate Cunha, ao dizer-se cansado do que chama perseguição. “Ele está zangado porque saiu do centro. Não darei importância alguma às suas denúncias.”

Antonio Cunha, que é conselheiro da comunidade portuguesa em Londres, cidade onde vive há 45 anos, lamenta que falte reconhecimento a tudo que fez pelo centro. “Eu consegui a verba do Projeto Escolhas quando nem era diretor ainda. Foram 230 mil euros”, conta. “Agora, se você me pergunta se estou de acordo com tudo da atual administração, digo que não.”

Cunha afirmou que as contas do centro estarão regularizadas até o final deste ano. Atualmente, a instituição é mantida com o aluguel do espaço físico. Algumas salas estão alugadas para profissionais autônomos (uma psicóloga atende lá, por exemplo) e o salão principal é arrendado para uma igreja de sexta à domingo.

Nova geração

Um ponto em que ambos Alcino e Cunha concordam é sobre a necessidade de mudar a direção. “Precisamos abrir espaço para a nova geração”, diz Cunha.

Já Alcino tem outra razão para querer uma diretoria renovada. Outra revelação dele é que a eleição que nominou os atuais diretores foi fraudada. “Depois que acabou a sessão, e eu não fui reeleito, soube que as pessoas presentes não estariam autorizadas a votar.”

Além disso, entre as regras do centro, uma delas estabelece a troca de um dos cinco diretores anualmente. “Da atual diretoria, um deles sequer mora na Inglaterra e há quatro anos não há eleição.”

Henrique Carneiro, um dos atuais diretores do centro, preferiu não comentar as acusações de Alcino. Disse que tem “trabalhado arduamente, sem nenhuma renda pelo ofício, para manter o centro” como um importante elo com a comunidade lusófona no Reino Unido.

De fato, desde o início da pandemia, o espaço tem sido usado pelo Lambeth Council, igrejas locais e comunidade em geral como um lugar de apoio aos mais necessitados, inclusive com distribuição de cestas básicas.

Para Alcino, no entanto, o centro pode fazer mais e melhor. “Fechar o centro está fora de questão, por isso não faço uma acusação formal às instituições britânicas, mas não vou me calar até que essa diretoria seja renovada”, avisa.

Um representante da comunidade portuguesa, frequentador do centro desde sua fundação, comentou a polêmica, mas preferiu não se identificar. “Conheço todos os envolvidos e sei que eles têm boas intenções com a comunidade”, explica. “Se houve erros, gostava de vê-los esclarecidos e bola para frente.”

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