Consulado do Brasil mantém programas de assistência aos mais necessitados da comunidade

Da Redação

Desde a terceira semana de março operando em regime de plantão, o consulado do Brasil em Londres tem registrado cerca de 200 atendimentos por dia. Há ainda turistas retidos porque tiveram voos de retorno cancelados, mas há também pessoas que perderam o emprego e mulheres vítimas de violência doméstica. Nesta entrevista exclusiva para o Notícias em português, o cônsul geral Tarcísio Costa explica o que consulado tem feito para ajudar a comunidade.

Tarcísio fala também de uma interessante observação, pautada no último voo de repatriação organizado por ele e sua equipe. “Do grupo que demonstrou interesse em retornar ao Brasil apenas metade de fato confirmou a ida”, conta. “Penso que o clima inicial de desespero deu lugar a uma sensação de ‘vamos esperar para ver’. E isso se deve por dois fatores: o aumento de casos do vírus no Brasil e a expansão de alguns setores como de delivery no Reino Unido, com muitas contratações em uma área em que brasileiros já costumavam atuar.”

Notícias em Português – Ainda há turistas brasileiros retidos no Reino Unido?

Tarcísio Costa – Sim. Como se sabe, as companhias que operam voos diretos com o Brasil (Norwegian, Latam e British Airways) cancelaram suas operações. A Virgin sequer começou a operar, já que o início estava previsto para março. O que significa que pessoas com retorno marcado ficaram retidas. Nossa orientação tem sido a de buscar reacomodar o voo em outras companhias. Air France, KLM e Lufthansa estão operando. E estamos sempre informando quando há voos partindo de capitais europeias.

Como tem sido a procura por ajuda do consulado?

Desde o início de março, o consulado foi procurado por 1125 pessoas com intenção de retornar para o Brasil, e também a pedir apoio emergencial. Muitos são turistas que tiveram voos cancelados. A equipe do consulado ajudou diretamente duas centenas deles, conseguindo relocação do voo. Mas há também os que estão em situação de desvalimento, alguns por terem perdido o emprego e não terem condições de permanecer no país. Há idosos, pessoas com problemas de saúde e, infelizmente, vítimas de violência doméstica, a maioria mulheres, neste caso.

Como o consulado tem ajudado?

Além de ajudar a reacomodar os turistas em voos, o consulado mantém dois serviços contratados: assistência jurídica e psicológica, com atendimento por telefone ou internet. A nossa psicóloga Marta Fernandes presta apoio à saúde mental. Não é terapia, mas uma assistência imediata antes de encaminhar a pessoa ao NHS. O consulado também articulou uma rede de instituições beneficentes para prestar apoio de alimentação e hospedagem. Essas entidades nos ajudam a identificar acomodação provisoria Isso tem sido feito sete dias por semana. Algumas dezenas de brasileiros foram beneficiados.

Há também o programa de repatriação.

O governo federal mantém um programa de repatriação global. Já foram realizadas várias operações e fizemos uma aqui. O voo com 320 brasileiros partiu de Londres no dia 17 de abril. Aqui foram incorporados grupos de Dublin. O voo teve escala em Paris onde juntaram-se passageiros vindos da Bélgica, Luxemburgo e Suíça. O destino foi São Paulo, e de lá cada um arcou os custos da conexão. Entregamos máscaras e, embora dentro do avião não foi possível cumprir as exigências de distanciamento social, todos receberam a recomendação de cumprir sete dias de quarentena.

Qual foi a sensação de atuar em uma missão de repatriação em um momento grave como esse?

Foi algo que me pareceu importante fazer naquele momento. Devo destacar o trabalho de toda a equipe do consulado. Imagine que não é fácil avaliar a partir de critérios de situação vulnerável. Foi uma satisfação prestar esse serviço.

Brasileiros em situação ilegal também têm procurado o consulado?

A condição imigratória não é critério para nossa atuação no consulado. Para nós, o único critério é que seja cidadão brasileiro.

Há muita procura de brasileiros que querem retornar ao Brasil?

Veja bem, do grupo que no início do processo para repatriação, no começo de março, demonstrou interesse em retornar ao Brasil, apenas metade de fato confirmou a ida no voo do dia 17/04. Penso que o clima inicial de desespero, quando a melhor alternativa parecia ser o retorno ao Brasil, deu lugar a uma sensação de “vamos esperar para ver”. E isso se deve, penso, por dois fatores: o aumento de casos do vírus no Brasil e a expansão de alguns setores como de delivery no Reino Unido, com muitas contratações em uma área em que brasileiros já costumavam atuar.

Como o consulado tem funcionado?

O consulado, como todos os outros ao redor do mundo, está funcionando em regime de plantão. O atendimento presencial está suspenso desde a terceira semana de março, quando o governo britânico decretou a quarentena. Mas não deixamos de atender. Grupos de seis a sete profissionais da equipe vai duas vezes por semana ao consulado para atender situações emergenciais, com agendamento prévio. Não adianta bater na porta do consulado dizendo que é urgente porque não é assim que funciona. Entre os casos urgentes estão emissão de documentos como autorização de retorno, atestados de vida e outras exigências para casos de falecimento, por exemplo. Contiuamos com a mesma media de 200 atendimentos por dia, o que inclui consultas recebidas que são atendidas com a presteza possivel.